quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Era uma vez, uma folha que sonhava...

Não sei quanto ao resto do mundo, mas essa época do ano me deixa com a sensibilidade à flora da pele.

Então, fica aqui, uma das redações que mais gostei do Concurso de redação Ler é Preciso, promovido pelo Instituto Ecofuturo.

Um mundo novo em folha

Era uma folha de papel em branco. Fazia muitos planos para seu futuro, como a maioria das folhas de papel em branco que havia no pacote. Em seus sonhos mais felizes, planejava para si uma vida de serventia educativa. Afinal, pensava a folha, o conhecimento é o bem mais importante para qualquer ser. Por isso, em sua lista imaginária de sonhos, viu a si mesma numa escola, como instrumento de aprendizado de inúmeras crianças; ou então no Ministério da Educação, e nesse sonho toda a sua superfície era recoberta de projetos educacionais para a população carente de saber. A pequena folha acreditava no futuro. Até chorava de orgulho antecipado ao se imaginar como página de um livro, podendo difundir através de palavras o conhecimento. E então queria ser reciclada e reutilizada diversas vezes. Um dia estava presa em seus devaneios, dentro do pacote com outras folhas de papel em branco. Um menino se aproximou. Abriu o pacote e puxou para si a pensativa folha. Finalmente, pensou ela, poderei ser útil à educação dessa criança! O garoto prosseguiu, realizando dobraduras na outrora lisa folha, que não compreendia o que se passava em seu corpo. Num instante, transformou-se em um avião de papel, que realizava manobras de guerra nas brincadeiras "bélicas" infantis. No fim da tarde, foi esquecida no chão, e logo surgiram mãos para amassá-la e jogá-la no lixo da cozinha, junto com os restos de alimentos desperdiçados. Em seu exílio, chorou, frustrada, e descobriu que o resto do feijão do almoço ao seu lado sonhava em acabar com a fome do mundo.

Ananda Araújo Lima Costa
16 anos - Salvador, Bahia

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ela e eu. Eu e ela.

A danada não me disse nada. Me deu tchau, até amanhã e pronto.
Remexi em minha bolsa. Encontrei um bilhete. Lá brilhava: “O essencial é invisível aos olhos”.
Depois desta frase, doces palavras se seguiam uma a uma, enquanto as lágrimas brotavam de duas em duas.
Fiquei um tempo com aquele pedaço de papel entre os dedos, tomada de uma profunda sensação de silêncio interior.
Era exatamente tudo aquilo que eu queria dizer para ela, que sinto por ela, que penso dela. Mas me vi irada com ela.
Injusta ela foi comigo. Roubou minhas palavras e não me deu, sequer, a oportunidade de me preparar para o golpe.
Talvez eu tenha lhe dado permissão para tal em algum momento desses últimos 7 anos.
Misturamos o nosso pensar sobre o mundo, os nossos sonhos, as nossas famílias, os nossos amigos, os nossos dias.
Nos misturamos, nos complementamos, nos escolhemos.
Ela e eu. Eu e ela.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Com entrelinhas e recheios

Andando por aí, acabei encontrando uma definição linda do que ando sentindo nos últimos meses, depois dele.
Achei tão linda, que resolvi compartilhar.

AMOR

Na véspera de ti
eu era pouca
e sem
sintaxe
eu era um quase
uma parte
sem outra
um hiato
de mim.

No agora de ti
aconteço
tecida em ponto
cheio
um texto
com entrelinhas
e recheio:

um preciso corpo
um bastante sim.

Maria Ester Maciel
De Triz (1998)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Desse jeito...

Após alguns longos minutos de silêncio, ele perguntou, espantado com a própria pergunta:

- Por que você faz assim?
- Assim como?
- Oras, assim, desse jeito.
- Como assim?
- Desse jeito que você faz!
- E como faço?
- Hum, é... é... é desse jeito seu.
- Jeito meu?
- Jeito seu de fazer, ué!
- Hum... assim desse jeito?
- É, assim, parecido com o que você parece ser.
- Pareço ser desse jeito?
- Sim, um pouco assim, um pouco assado.
- Ah tá, pensei que você estivesse falando de um jeito único. Jeito soberano de ser.
- Então, é isso.
- Isso o que?
- Não sei.
- ...
- Talvez eu estivesse querendo falar do meu jeito, não do seu.
- ...

Silêncio. Ele muda o jeito de cortar a carne.
Ela continua descascando as batatas. Do mesmo jeito.


(acho que ando inspirada por Clarice...)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Obrigada, Senhor!

Post atípico hoje.
(me perdoem, preciso desabafar).

Estava eu ontem, quase me preparando para sair do escritório, quando me passam uma ligação. Até falei, antes mesmo de atendê-la - acho que já ativando o meu sexto sentido: a Camilla não está!, brincando, claro, mas a ligação, obviamente, foi passada.
- Camilla, você é responsável pelo cliente X.
- Sim, o que precisa?
- Então – mascando chiclete com a boca aberta, fazendo aquele barulho irritante - preciso que me dêem uma entrevista amanhã sobre o assunto Zanski. Aliás, que projeto é esse?
Eu pensando comigo mesma: como assim que projeto é esse???? O cara pede entrevista sobre o assunto e não sabe nem sobre o que é?!?!?!?
Respirei fundo e expliquei detalhadamente como funciona, os envolvidos, os beneficiados e por aí vai.
- Você pode me mandar por e-mail isso?
- Claro! – sendo super prestativa.
- Você tem contatos dos beneficiados?
- Sim, te mando em anexo no e-mail, e você pode entrar em contato diretamente com eles enquanto eu vejo se o fulano de tal pode te dar entrevista amanhã, mas, como você me ligou muito tarde, não posso lhe garantir que ele atenderá a sua pauta. Assim que tiver uma resposta dele, eu te ligo de volta, ok?!
- Fechado!
Desliguei o telefone, montei um e-mail anexando tudo o que ele tinha pedido e mandei um simpático: Qualquer dúvida, me ligue (ah, se arrependimento matasse!).
5 minutos depois, me repassam uma ligação.
- Camilla?
- Eu!
- É o fulano de tal, será que você não poderia me passar pelo menos os telefones dos beneficiados.
- Mas eu já te passei tudo direitinho, já olhou seu e-mail depois que falou comigo?
- Hum, ainda não, vou dar uma olhada então.
Tsc Tsc Tsc. Assim fica difícil.
E o telefone toca novamente.
- Camilla?
- Oi, fulano! – já respirando bem fundo.
- Você já tem alguma resposta?
- Fulano, só passaram 15 minutos do momento que você me ligou pela primeira vez e fez essa solicitação. Avisei que estava tarde, mas já deixei um recado no celular da pessoa que pode atender essa pauta. Agora precisamos esperar, pode ficar tranqüilo, EU te dou retorno.
- Hum – um exagerado bocejo que quase me fez desligar na cara dele – me diz uma coisa, cadê os contatos dos beneficiados? Isso não chegou para mim.
- Olha fulano, você pode dar uma olhada no e-mail que te mandei? Mandei em anexo dois arquivos, um deles tem o contato de todos, com telefone, endereço, cep, valor do benefício....
- Ah, olha só, não é que veio mesmo, mulher?
(ãhn???? Agora virou meu melhor amigo!)
- Pois então, quando eu tiver resposta do porta-voz, EU te ligo.
5 minutos depois, estava eu procurando uma informação para um colega de trabalho que está viajando com outro cliente, e o telefone toca.
Já estou sozinha no escritório, falando na outra linha com o coleguinha, não deu tempo de puxar a ligação. Mas não teve problema, o fulano ligou no meu celular na seqüência.
- Camilla?
- Oi...
- Então, já tem resposta?
- Não.
- Hum.
- Mais alguma coisa, fulano?
- Hum...
- (respiro profundamente)
- Sabe, esses beneficiados que me mandou, sabe? (-como não saberia????!!!!) – São acessíveis?
- Sim, já deram muitas outras entrevistas.
- Será que você não poderia ligar para eles para saber se eles podem dar entrevista para nós? – mascando insistentemente aquela p. daquele chiclete.
- Olha, fulano, esses contatos devem ser feitos por vocês, uma vez que eles têm total autonomia para atender ou não as solicitações. Caso você TENTE e não dê certo, de jeito nenhum, me avise que tentamos ajudar com o que for possível.
Desligo meu computador, arrumo minhas coisas, vou ao banheiro. Desço.
Esperando meu carro toca meu celular. Número Privado. Atendo já bem sabendo quem é.
- E aí, Camilla, tudo certinho?
- (eu, sem o menor esboço de emoção) Sim.
- Resposta?
- Não.
- Vai ter uma logo?
- Não sei.
- Como assim?
- Como já disse, não depende mais de mim.
- Hum, sabe o que é, ele não mora em São Paulo, né?
- Oi?
- Procurei por ele na lista telefônica e nada.
- Fulano, já entrei em contato com ele e já falei que assim que conseguir qualquer resposta, seja positiva ou negativa, EU ligo para você assim que desligar com ele.
- Hum, você entende que eu preciso dessa resposta, né?!
- Sim, e você entende que eu não tenho como lhe dar uma resposta sem que ele me retorne, né?
- Sei, sei, mas eu preciso de uma resposta.
- Eu sei, mas, infelizmente, não tenho nenhuma ainda. Obrigada.
Desliguei. Respirei fundo e coloquei uma música bem alta.
Enquanto falava com meu namorado, 3 ligações Privadas perdidas e uma de um outro número qualquer.
Desligo com ele e toca novamente daquele mesmo número qualquer.
- Camilla?
- Oi.
- E aí?
- Olha fulano, acho que talvez eu não esteja me expressando bem, pois essa já é a quinta ou sexta ligação que eu digo a mesma coisa para você, mas, mesmo assim, você continua insistindo com a mesma pergunta. Acho que talvez seja um problema de comunicação meu. Não, ainda não tenho resposta, uma vez que se já a tivesse, certamente você também a teria.
- Então, é que eu preciso dela.
- Ahãn.
- É que é meu trabalho deixar a pauta de amanhã pronta.
- Também é o meu te dar um retorno.
- Então?
- Então, até amanhã. Muito obrigada.
Sim, ele já me ligou hoje. E adivinhem? Eu ainda não tenho resposta.

Obrigada Senhor, por me ajudar a ser um pouco mais tolerante nessa vida.
Prometo que serei uma boa menina e não jogarei uma bomba de bosta atômica na cabeça dele nas próximas horas, uma vez que, mesmo sendo retardado desse jeito, ele pode ter família e pessoas que podem sentir a falta dele (duvido, mas continuo nas prestações do financiamento do meu pedacinho no céu, então...).
Amém.

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Idéias

E daí vem o turbilhão de idéias.
Idéias soltas, idéias prontas, idéias zinhas.
A cabeça dói, a pele arrepia, o sossego não faz parte.
Vem o presente, vem o futuro, vem o que há de ser.
O que se quer ser.
O que não se sabe ainda ser.
Vem a certeza, vem a dúvida, vem a preguiça.
Palavras soltas, cores sobrepostas, foco desfocado.
Ideais. Idéias.
O que fazer com elas?

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Ler, ler, ler, ler

Venho pensando, trabalhando, degustando, repensando, me questionando e tantas outras coisas sobre a importância da leitura na vida das pessoas. Desde pequena devoro livros, confesso que nos últimos tempos bem menos do que deveria, com uma paixão que nunca se cansa de existir. Não posso entrar em livrarias. Tenho quase que um tique nervoso de ler trechinhos aqui e acolá.

Minha atenção aos livros aumentou e muito depois que comecei a trabalhar com o Instituto Ecofuturo, que além de me proporcionar algumas boas horas de risadas em reuniões nas quais as idéias nascem a cada milésimo de segundo e os e-mails se multiplicam em minha caixa de entrada quase que de uma maneira viral, tem me pegado pela mão e me apresentado milhares de coisas desse mundo da leitura que antes, confesso, eu não prestava tanta atenção. E, pronto, tenho amado cada vez mais este tema.

Ontem, tive o imenso prazer de estar presente na abertura do 3º Corredor Literário de São Paulo, em uma homenagem ao bibliográfo, imortal e tantas outras milhares de coisas boas, José Mindlin. Apesar das discrepâncias de uns, que não podem ver um microfone em um espaço público para dar início ao show de horror de nosso vago discurso político, a homenagem foi linda. José Mindlin e sua fantástica gravata com desenho de prateleiras de livros, aos 92 anos, emocionante lucidez e bom humor, é uma das figuras mais importantes da luta pela educação de qualidade no país.

Teria mais um milhão de coisas para dizer hoje por aqui, mas o tempo é curto e o turbilhão de idéias que se formam em minha cabeça não me permitem organizar muito bem um discurso que não seja confuso, nem muito menos vago. Precisava apenas colocar para fora um pouquinho do carinho e motivação que trabalhar com o tema Leitura, e Escrita, tem me causado.

Ontem também, Lima Duarte fez uma Leitura Dramática por lá de Guimarães Rosa e de Drumonnd, o que me provocou arrepios deliciosos. E deixo aqui um dos textos lidos majestosamente por ele:


BIBLIOTECA VERDE

Papai, me compra a Biblioteca Internacional de Obras Célebres.
São só 24 volumes encadernados em percalina verde.
Meu filho, é livro demais para uma criança.
Compra assim mesmo, pai, eu cresço logo.
Quando crescer eu compro. Agora não.
Papai, me compra agora. É em percalina verde, só 24 volumes.
Compra, compra, compra.
Fica quieto, menino, eu vou comprar.

Rio de Janeiro? Aqui é o Coronel.
Me mande urgente sua Biblioteca bem acondicionada, não quero defeito.
Se vier com um arranhão recuso, já sabe: quero devolução de meu dinheiro.
Está bem, Coronel, ordens são ordens.
Segue a Biblioteca pelo trem-de-ferro, fino caixote de alumínio e pinho.
Termina o ramal, o burro de carga vai levando tamanho universo.
Chega cheirando a papel novo, matade pinheiros toda verde.

Sou o mais rico menino destas redondezas.
(Orgulho, não; inveja de mim mesmo)
Ninguém mais aqui possui a coleção das Obras Célebres.
Tenho de ler tudo.
Antes de ler, que bom passa a mão no som da percalina,
esse cristal de fluida transparência: verde, verde.
Amanhã começo a ler. Agora não.

Agora quero ver figuras. Todas.
Templo de Tebas. Osíris, Medusa, Apolo nu, Vênus nua...
Nossa Senhora, tem disso nos livros?
Depressa, as letras. Careço ler tudo.
A mãe se queixa: Não dorme este menino.

O irmão reclama: Apaga a luz, cretino!
Esparmacete cai na cama, queima perna, o sono.
Olha que eu tomo e rasgo essa Biblioteca antes que pegue fogo na casa.
Vai dormir, menino, antes que eu perca a paciência e te dê uma sova.
Dorme, filhinho meu, tão doido, tão fraquinho.

Mas leio, leio.
Em filosofias tropeço e caio,
cavalgo de novo meu verde livro,
em cavalarias me perco, medievo;
em contos, poemas me vejo viver.
Como te devoro, verde pastagem.
Ou antes carruagemde fugir de mim e
me trazer de volta à casa a qualquer hora
num fechar de páginas?

Tudo que sei é ela que me ensina.
O que saberei, o que não saberei nunca,
está na Biblioteca em verde murmúrio
de flauta-percalina eternamente....

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Adultos... Adultos...



(clique na figura para ampliar ; )!)

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Silêncio

Silêncio...
Ouve-se o som dos tambores do vento

Silênci...
Ouve-se a dança das águas do mar

Silênc...
Ouve-se o sol se escondendo no tempo

Silên...
Ouve-se os grãos de areia correndo pelo ar

Silê...
Ouve-se a lua se aconchegando no espaço

Sil...
Ouve-se os pensamentos fluindo mais lentamente

Si...
Ouve-se histórias de palavras não ditas

S...
Ouve-se as batidas dos corações enamorados

...
Ouve-se a vida pulsando ferozmente
pelas veias.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Diva Dadivosa

E lá estava ela.
Sentada em seu banquinho, com seu longo vestido rosa. Não, não era um meigo vestido rosa.
Era um simples vestido rosa misturado a uma longa bota preta. Ela não tem nada de meiga.
Mas causa a sensação de simplicidade, de “pés descalços”, mesmo apresentado-os vestidos.
Sua voz ecoou, entrou em mim por todos os poros. Arrepios. Lágrimas nos olhos, sem nem saber exatamente o porquê.
Sensação de euforia por estar perto de um ídolo. Sensação de conforto por estar acompanhada das pessoas certas para este momento.
E veio Universo ao Meu Redor. Beija Eu. Segue o Seco. Não Vá Embora!!
Diva. Ela é uma diva. Dessas “bem dadivosas, que entra vida e sai vida, fica ali verso e prosa”.
Marisa Monte faz parte do meu Infinito Particular.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Ser ou não ser, eis a questão

Esses dias têm sido daqueles...
Daqueles de reflexão sobre o que se é e para onde vai essa vida de “meu deus”.

Se eu fosse uma fruta seria morango, jamais mamão
Se eu fosse um outro mamífero seria um urso polar
Se eu fosse uma flor seria orquídea, não violeta
Se eu fosse uma comida seria batata, jamais fígado
Se eu fosse música seria samba ou bossa nova, necessariamente MPB
Se eu fosse um pássaro seria uma coruja, nunca um quero-quero
Se eu fosse uma cor seria branca
Se eu fosse um jogo seria Alex Kid in The Miracle World, War ou Tranca, não Imagem e Ação
Se eu fosse um desenho seria Nemo, Carmen San Diego ou Capitão Planeta, nunca Power Ragers

Se eu fosse uma personagem seria a Dory
Se eu fosse um personagem em quadrinhos seria Calvin ou Mafalda
Se eu fosse uma das princesas seria a Pequena Sereia ou a Bela
Se eu fosse uma boneca seria a prima da Barbie, nunca a Barbie
Se eu fosse uma arte seria cinema
Se eu fosse uma bebida seria café
Se eu fosse um sorvete seria frozen yogurt, jamais napolitano
Se eu fosse uma celebridade seria pela escrita, jamais pela bunda
Se eu fosse uma cantora queria ser como Zélia Duncan
Se eu fosse um doce seria chocolate ou quindim, nunca rapadura
Se eu fosse uma estação do ano seria verão

Sabendo tão bem o que eu seria ou não seria, como é que não sei o que sou agora?
O que quero ser "quando crescer"?

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Mantega, Rebelo, Thomas e risadas


O celular toca.

Quase sussurando, a amiga 1: Cara, como é o nome do atual Ministro da Fazenda?
Amiga 2: Hum... Hã... Aquele que fala muiiiiiiiiiiiito!!! Hum... Mantega, é Mantega!!!!
A1: Caraaaacaaa, como é o primeiro nome dele!!!
A2, achando tudo aquilo muito estranho -: Meu, onde você está? O que está fazendo?
A1, aflita e impaciente: Fala LOGO, amiga! FALA LOGO!
A2: É Guido, é Guido! – já querendo se jogar no chão de tanto rir.
A1: Ok, ok, e o Presidente da Câmara dos Deputados??

Silêncio... Outras duas amigas estão aflitas também e nesse caos nonsense, NINGUÉM, mas NINGUÉM, consegue falar rapidamente o nome do homem. Uma delas começa a ligar para o marido que deve estar em frente ao computador.

A2: é alguma coisa Rebelo, não é??
A1: FALA LOGO, JACA!
A2: Vamos desligar, mandamos uma mensagem de texto.

Sim, confirmado pelo marido eficiente, Aldo Rebelo. Mensagem encaminhada, ufa!

A3: O que está acontecendo?
A4: Ela está fazendo entrevista de emprego, só pode.
A2: Ou um Quiz para entrar no governo!!!!
A3: Ou teste para o show do Milhão!

A prosa tomou outro rumo. De repente a A3 recebe uma mensagem.

A1: Quem é Gerald Thomas?
A3 – aceleradíssima, como se estivéssemos todas nós correndo atrás do Milhão-: Diretor de Teatro, fala logo onde você está, p...!

Apesar da indignação de todas por não terem sido rápidas nos dois primeiros nomes, afinal, era o mínimo que esperariam de delas, o episódio rendeu uns 15 minutos de risada, era como se todas estivessem no mesmo barco. Formou-se uma corrente do bem.

A2: Gente, já pensou que vergonha se pegarem ela colando? Com 30 anos nas costas e aquela cara de boa moça?

Boas risadas. Boas risadas. Tem gente que tem uma facilidade fora do normal de passar por situações engraçadíssimas.

No caso, as 4 têm!

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Desabafo

Alguns detalhes preciosos da língua portuguesa:

- A gente, no sentido de nós, se escreve separado, jamais “agente”. “Agente” só se for no estilo 007;

- De repente, também é separado. Onde já se viu escrever junto e ainda dobrando o “r”???? Eu já vi, e fiquei chocada!;

- “Mim não fazer nada”, então, pelo amor de Deus, quando quiser falar “Para --- fazer tal coisa”, sempre, sempre mesmo, mesmo em um momento de dor, utilize EU! Para EU fazer, para EU levar, para EU pensar, para EU escrever e por aí vai;

- Os verbos “poder”, “por”, “querer” (e mais muitos outros) são lindos se bem conjugados, portanto, utilize “Se eu PUDER”, “Se eu PUSER”, “Se eu QUISER”, nunca se eu “poder”, “por” ou “querer” nesse tipo de construção de frase;

- Atenção, é PERSpectiva, NÃO, PRESpctiva;

- Apenas um lembrete: Concordância foi concebida para ajudar as palavras a CONCORDAREM umas com as outras em GÊNERO (traduzindo: feminino ou masculino) e NÚMERO (singular ou plural);

- Grave: eu não VOU ESTAR FAZENDO p. nenhuma! Eu FAREI, e tenho dito.

Pronto, desabafei!

Muito obrigada! (meninas: obrigadA, meninos: obrigadO)

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

Infinitamente

Olho muito, acho até que em excesso
Mas não sei ainda se o vejo tão bem
- Algumas pessoas são feitas de um material especial
mais raro, mais sensível, menos tátil, mais misterioso-
Mas o vejo infinitamente lindo
Infinitamente doce
Infinitamente apaixonante
Infinitamente interessante.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Parabéns, amiga!

Trocamos uns e-mails. Eu e ela.

Eu: que saudade!
Ela: tenho uma bomba pra te contar, mas não conto por nada nesse mundo por e-mail.
Eu: você vai casar?

(silêncio). Nenhum outro e-mail dela entrou mais na minha caixa.

Nos encontramos.

Eu: você vai casar ou está grávida?
Ela: e se eu disser que são as duas coisas?
Eu: tudo junto, ao mesmo tempo? Rs
Ela: ...
Eu: eu vou mais que amar!!!!!!!!!!!

Pronto, e foi assim que eu fiquei sabendo que mais um sobrinho postiço vem por aí.
Mais uma das melhores pessoas da minha vida está carregando uma nova vida e está absolutamente feliz por conta disso.
Que coisa linda, amiga! E, sim, eu vou cuidar de você! Quando e onde precisar, sempre!
Você vai ficar linda - mais ainda!!! - barrigudinha!!!!!
O bebê de vocês será o “bebê do ano” de 2008!!!!!
Amo vocês!

“Ao ingressar no segundo mês de gestação, o bebê estará flutuando numa bolsa de líquido: já terá cérebro, espinha e um sistema nervoso central simples. O coração começa a pulsar na sexta semana, época em que se delineiam pernas e braços e as células ósseas iniciam seu desenvolvimento. Os ouvidos estão em formação e o rosto se esboça com nariz e boca. A língua também é incipiente.

No início do terceiro mês, o bebê terá, aproximadamente, o tamanho de um morango. Nessa etapa o seu esqueleto vai se definir - caixa craniana, coluna vertebral, costelas e tíbia -, mas o principal progresso é o neurológico. O organismo da criança produz cerca de 5 mil células neuronais por segundo, para consolidar a formação do sistema nervoso.

Com músculos e articulações formados, já curva os dedos dos pés, fecha as mãos, abre e fecha os lábios, faz biquinho, xixi, suga o líquido à sua volta. Ele termina o primeiro trimestre com todos os seus principais órgãos internos formados (a maioria funcionando). Está mais protegido contra infecções e drogas e escapa do maior período de risco para malformações congênitas. Pesa em torno de 18 gramas e mede cerca de 6,5 centímetros de comprimento - o equivalente a uma pêra.”

Homenagem à Antonioni e Bergman!


A primeira vez que vi Blow-up (1966), do cineasta neo-realista italiano Michelangelo Antonioni, pensei: acho que não entendi nada. Será que foi isso mesmo o que ele quis dizer? Mas o filme tinha algo de absolutamente interessante. Longas seqüências, o que pode causar um certo tédio, e pouquíssimos diálogos. Fui atrás de explicações. Depois de umas aqui, outras ali e o filme visto mais uma vez certo tempo depois, já com outro olhar sobre o cinema, sim, já estava gostando demais dele.


O filme, baseado livremente no conto “As Babas do Diabo”, do argentino Julio Cortazar, conta a história de um fotógrafo "vazio" de moda da década de 60 que, sem querer, se vê envolvido em um caso de assassinato após fotografar uma mulher beijando um adolescente em um parque. Ao longo de toda a trama, Antonioni questiona a veracidade de uma imagem. Existe muito exibicionismo e erotismo, tendo sido dele a primeira cena de nu frontal feminina em um filme não-erótico, feito para o grande público.

Retomar Blow-up no dia de hoje tem um porquê especial. Aos 94 anos, Michelangelo Anotinioni, cineasta da angústia social e incomunicabilidade, morreu na noite de segunda-feira, 30 de julho, em Roma. Foram mais de 20 filmes, recebeu prêmios em Veneza, Cannes e Hollywood. Na década de 80, sofreu um derrame cerebral, o deixando praticamente imóvel e privado da fala, o que não o privou de continuar “fazendo” cinema. Em 1995, co-dirigiu, com Win Wenders, “Além das nuvens”, baseado em contos de sua própria autoria. Nos últimos anos retornou à direção, ajudado por sua esposa, para realizar dois filmes: um documentário sobre a restauração do Moisés de Michelangelo, em 2004, e com um episódio do filme "Eros", apresentado no Festival de Veneza, neste mesmo ano.

Mas na segunda, além de Antonioni, aliás, um pouco antes dele, também morreu o cineasta sueco Ingmar Bergman, aos 89 anos. Cineasta especialista em primeiro plano e no questionamento sobre Deus, a existência e a morte. Um filme que me lembro bem dele - uma vergonha pois foram mais de 50 realizados por ele - é “Monika e o Desejo”, um filme sobre a juventude e suas inconseqüências, de enorme realismo e até mesmo, de uma certa crueldade, ao retratar o desgaste de um relacionamento amoroso. Outro é “Morangos Silvestres” (1957), uma película “existencial”, que explora realidade e elementos oníricos, misturando passado, presente e imaginação acompanhando as memórias de um médico cheio de angústias.


Bergman, ganhou, merecidamente, inúmeros prêmios em Hollywood, Cannes, Veneza e Berlim. Entre os mais conhecidos estão Fanny e Alexander (1982), O ovo da serpente (1977), Face a face (1976), Gritos e Sussuros (1972), Quando duas mulheres pecam (1966) e o Sétimo Selo (1956), entre muitos outros.

Vale a pena “revê-los”! Para mim, vale muito a pena buscar todos os ainda não assistidos.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Medos Privados em Lugares Públicos


Com mais de 85 anos, ele parece quase que o mesmo que dirigiu, aos 37, “Hiroshima meu amor” (1959). Francês da cabeça aos pés, Alain Resnais é fascinante. “Medos privados em lugares públicos” (Coeurs), seu novo filme, me lembrou o porquê dos filmes franceses me estimularem tanto: eles são LINDOS! PURA ARTE! - lógico que não é todo filme francês que é bom, seria demais uma afirmação como essa -.

Aqui, histórias de seis personagens solitárias se conectam em um momento de desilusão de suas vidas. Um casal em crise, dois irmãos reprimidos, um barman que tem que cuidar de seu intolerante e doente pai, e uma mulher religiosa misteriosa.

Solidão, desilusão, tensão sexual, desencontros e o frio do inverno parisiense. A neve está presente em todo o filme, e ao mesmo tempo em que o deixa esteticamente encantador, consegue passar a sensação do universo da solidão, da falta de coragem de continuar lutando pelo amor, pela felicidade. As passagens de cena e a fotografia são fabulosas. Os diálogos são incríveis e nem tudo vem com intenção de ser inteligível, talvez de ser sentido.

Ponto altíssimo: A cena em que a neve cai sobre as mãos de Charlotte e Lionel dentro de casa, dialogando com o próprio diálogo, é de arrepiar.

Definitivamente, Paris é linda! Definitivamente, gosto muito dos clássicos diretores franceses!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Algo sobre o Azul

Azul é uma cor, é um adjetivo. Azul é letra de música.

Quem pertence à nobreza tem “Sangue Azul”.
Receber o “Bilhete Azul” é ser demitido.
Pescar na “Água Azul” é pescar fora da plataforma continental, em alto mar, longe da costa.
Quando tudo vai bem, está tudo “Azul”.
A “Mosca Azul” é famosa, segundo o que se diz por aí, quem é picado por ela se deixa seduzir completamente pela ambição.

Azul Anil, Azul Celeste, Azul Petróleo, Azul Calcinha, Azul da Cor do Céu.
Azul é um menino. Azul é um menino lindo.
Azul tem cheiro de infância e gosto doce de pedacinho de céu.
Azul tem som de chuva batendo no mar.
Azul é rei em corpo de plebeu. Provoca ambição extrema pelo além do que se vê.

Intensidade leve, carinho cortante, silêncio barulhento e saudade presente.

Azul é coragem. Coragem, Azul!

“Eu não sei se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá dos olhos teus
Essa cor que azuleja o dia?
Se acaso anoitecer
Do céu perder o azul
Entre o mar e o entardecer
Alga-marinha vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul
Essa cor não sai de mim
Bate e finca pé
A sangue de rei
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho, cedinho,
Corre e vá dizer pro meu benzinho
Um dizer assim:
O amor é azulzinho”
Djavan

Ps. Saudade, meu rei!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Coragem

Coragem!

Coragem para levantar da cama, coragem para tomar um café, coragem para escolher a roupa do dia, coragem para pisar fora de casa, coragem para estudar/trabalhar/passear, coragem para se relacionar com alguém, coragem para manter amizades, coragem para mudar caminhos, coragem para ter sucesso, coragem para querer ser uma pessoa comum, coragem de acertar e errar. Coragem de ser persistente em ter coragem.

Coragem é ânimo, entusiasmo, força, bravura, ímpeto, ousadia, brio, valentia, destemor e coração. Persistência é apego, firmeza, insistência, obstinação, perseverança e teimosia. E, muitas vezes, somos tão entusiasmados e ousados com algo novo, somos tão teimosos, firmes e insistentes quando queremos defender algo em que acreditamos, porque, então, não somos tão corajosos e persistentes com determinados sonhos? Porque deixamos com que eles se percam no caminho? Talvez porque eles carreguem em si elementos que não se encaixam em nós, assim, seria muito justo que os deixássemos de lado; ou, talvez, porque nos julgamos despreparados para enfrentar as inquietudes que eles possam provocar em nós.

Enfim, coragem.

“Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!”

Afinal, Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Tira o som dessa TV

Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar


Além o Que se Vê – Marcelo Camelo

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Paris, Jet´Aime


Nunca estive lá, mas sempre tive interesse em estar. É a famosa Cidade Luz, tem fama de cidade do amor, dos amantes e por aí vai, mas, na prática, nós, brasileiros, devemos ser imensamente mais calorosos que eles, portanto, o “amor” talvez não seja o real motivo para despertar paixão em mim (nós) por Paris.

Paris, Jet´Aime é encantador! É capaz de mostrar uma Paris que chama menos atenção para sua “fama” e mais para histórias comuns sobre diferentes tipos de amores vividos dentro desta cidade.

São 18 curtas de grandes diretores de todo o mundo, que em alguns momentos dialogam, em outros não se encaixam tão bem, são absurdamente fantásticos e outros bem menos, mas não perdem a sua graça, afinal, estamos falando do envolvimento de nomes como Gus Van Sant (Gênio Indomável), Walter Salles (Diários de Motocicleta e Abril Despedaçado), Alfonso Cuarón (E sua mãe também e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban) e os irmãos Coen (Matadores de Velhinhas), fora as sempre fantásticas presenças de Gérard Depardieu, que aqui atua e co-dirige um dos curtas, e Juliette Binoche (Chocolate e Caché).

Cada curta acontece em um arrondissement, ou seja, uma divisão distrital de Paris. São histórias diversas: sujeitos comuns em situações comuns ou inusitadas, choques culturais, ruídos de comunicação, toques de surrealismo, realismo fantástico – aqui Juliette Binoche dá um show -, toques infantis, separação e até mesmo de terror com vampiros. Confesso, me apaixonei à primeira vista, muito mais do que por qualquer outro, pelo literalmente curto “Loin du 16e”, co-dirigido Walter Salles (e olha que não foi por patriotismo) e Daniela Thomas. Silenciosa, Sensível, Comovente e Ambígüa trajetória de uma doméstica latina a seu local de trabalho. É de chorar em curtos minutos de projeção.

Outro que me chamou a atenção foi o Tour Eiffel, de Sylvain Chomet (que já tinha ganhado meu respeito pelo mais que sensível As Bicicletas de Belleville), que explora a inocência do amor, com uma deliciosa atuação de mímicos e um garotinho apaixonante, que é capaz de fazer qualquer um sorrir.

Mas, para não deixar “menor” nenhum deles, vale dizer que todos carregam em si algo que desperta interesse, que desperta um certo encanto. O último curta, dirigido por Alexandre Payne (Sideways), é absolutamente melancólico, porém com uma personagem, uma turista rechonchuda e caipira dos Estados Unidos, que dá uma simplicidade e leveza tão grande ao texto que foi capaz de me fazer sentir o frescor do vento do parque da cena final. Fantástico!

Não precisaria dizer, mas... Eu mais que recomendo! Vale cada minuto de projeção!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Repeteco, teco, caco, arte (cont.)

E a sexta-feira continua dengosa...

Será que eu continuo no improviso
ou arrisco a velha prosa
essa glosa vai de aviso
pra essa mulher formosa
que eu só quero o seu sorriso
repetindo o repeteco

no boteco da cultura
quero ao vivo, não telex
essa infinita saudade
tanto bate, tanto dura
(R.S., o incorrigível)


e ganha reforço...


Quanto pesa uns dias de saudade
Será que o improviso consegue segurá-la
Peço sua prosa, sua poesia
Sua voz, sua alegria
Na semana que se repete
Bem na próxima semana

Findo

Foram dias de encontros
Foram outros de ardor
Mundo de descobertas febris
Calafrios, Candidez, Caprichos
Foram tempos de palavras escorregadias
Foram ávidas cartas de amor
Entre os intervalos e os abodegos
A separação foi a cruz
Foram prantos convulsos
Foram meses de deserto
Vieram os novos ensejos
O mundo se coloriu de outras nuanças

Ficou-se a saudade
Ficou-se a recordação
Deixou um certo gosto na vida
O cheiro do sentimento sentido

E veio o reencontro
E a inquietante constatação:
É só. Passado. Findo.
O mundo tem outro tom.

Repeteco, teco, caco, arte

Ela diz:

Aguardo repeteco de você.



Ele, do jeito que é só dele, responde:

aguardo repeteco de você
quero nacos mais os ecos
junto tecos dos teus cacos
desencapo o durepoxi
colo um a um os pedaços
e te apresento feito arte
obra-prima bem acabada
daquelas de ficar babando
aguardando repeteco de você
(r.s., o incorrigível)


Ela, derretida, completa:

vem me repetir no repeteco
vem comigo que eu te mostro
cola um teco do seu caco
junto aos meus cacos
para a arte ser mais arte

quinta-feira, 5 de julho de 2007

As manifestações


Queridos, adorei as manifestações sobre o blog!

Mas tenho que confessar que uma das respostas foi eleita a mais fofa, veio até ilustrada.

Olha aí que gostosura o Rico, pimpolho de 3 meses da querida Japa Muraichi e do Rodrigo.
"E não reclamo de nada, nem das noites interrompidas, do choro sem razão (que na verdade há... a gente é que não conhece o motivo... hehehehehe), pois apesar de tudo isso há o sorriso maroto e apaixonado, os "angus" encantadores!!!", by Muraichi.
Lindo demais!



quarta-feira, 4 de julho de 2007

O delicioso som das VOZES

Há muito tempo tenho um certo encanto por vozes.
Algumas pessoas me despertam interesse imediato só com o timbre da voz.
Existe algo de mágico nas vozes. Algo que faz viajar um pouco, sair um pouco do senso comum. Posso passar tempo ouvindo algo, sem nem prestar atenção no conteúdo da fala, apenas no tom de voz, no sotaque, nos vícios de linguagem e viajar nisso.
Pode parecer loucura, mas há algo de maior que vem do timbre da voz de cada um. Não só do timbre, mas também na maneira do falar.
Lógico que a grande maioria não tem uma voz fantástica, capaz de me causar tanta alucinação, são poucas que são fascinantes de verdade.
Acho que meu interesse pelo tema começou um pouco antes de entrar na faculdade de jornalismo. Queria trabalhar em TV, então, o trabalho de voz seria imprescindível. Com o tempo e algumas decepções aqui, novos interesses ali, a questão da TV saiu dos meus planos, mas ganhei uma nova e verdadeira paixão, o rádio. Daí a coisa piorou... Minha atração por vozes ficou ainda maior.
Fui fazer um curso de locução com uma pessoa encantadora – de voz incrível, de arrepiar -, que me fez descobrir milhares de coisas em mim e em minha voz. Coisas que até mesmo ainda não aprendi a lidar direito. Fiz fono. Fiz aqueles exercícios chatíssimos com uma rolha na boca, mas foi ótimo. Acabei abandonando o tratamento no meio por conta de outras prioridades. Mas, enfim, o encantamento persistiu.
Foi amando vozes que me apaixonei por Selton Mello, com sua voz rouca e deliciosa.
Pela voz gravíssima e sua imensa propriedade sobre ela de Zélia Duncan (sim, eu quero entrar para o fã clube dela!!!! rs).
Pela melodiosa voz de Marisa Monte.
Pela maciez da de Toquinho. Pela inquietude da de Elis Regina.
São tantas...
Existem também, aliás essas são as melhores, as vozes do dia a dia que me encantam. Vozes que estão mais presentes e mais próximas, e que eu exploro e analiso sem qualquer pudor. Vozes que carregam em si doces lembranças, assim como cheiros e gostos – mas são temas para outros papos. O tom de voz é capaz de mudar o significado das coisas. É capaz de conquistar ou de afastar pessoas.
Cada voz carrega em si elementos muito particulares de cada um. Aliás, é uma das nossas melhores particularidades que necessariamente são anunciadas/expostas, quase que sem opção de não serem, para o resto do mundo.

“Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz”
Chico Buarque

“No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.”
Carlos Drummond de Andrade

“QUE VOZ VEM no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.”
Fernando Pessoa

“Que venha o censo de 70
e com ele venha
a recenseadora mais bacana,
aquela que ao dizer, com voz de acúcar(a doce voz é a melhor senha):
"Preencha direitinho
este questionário, por favor",
tenha sempre dos homens a resposta:
"Por você, minha flor,
preencho tudo, sou capaz atéde reclamar duzentos questionários,
passando a vida inteira a preenchê-los,
mesmo os mais complicados e mais vários,
tendo-a ao meu lado, é claro, a me ajudar."”
Carlos Drummond de Andrade

terça-feira, 26 de junho de 2007

Deliciosa descoberta!

Tem coisa que é assim, desperta paixão à primeira vista.

Pisei naquele lugar e vi que seria capaz de passar horas e horas lá dentro. Sim, cultura para todos os lados!!!!!

A nova Livraria Cultura do Conjunto Nacional está um espetáculo. Tem jeito de “coisa” boa, tem som de despertar interesse, tem cheiro de palavra e gosto de um bom café.

E apesar de eu não gostar de livrarias muito cheias, é bom demais ver aquele monte de pessoas se perdendo no universo do conhecimento.

Vale a visita de horas. Vale ir sozinho. Vale levar boa companhia. Vale passear pelos corredores, sentar no chão ou passar horas tomando um café – aliás, ótimo!

São prateleiras e mais prateleiras repletas de livros. Poesia, prosa, quadrinhos. Música, filmes e seriados. Sim, pode até ser, uma simples livraria, mas é uma livraria que instiga interação. Instiga querer estar lá muitas outras vezes. Instiga o saber mais e mais.

Como disse um amigo querido, queria ganhar muito dinheiro para poder comprar, pelo menos, metade das coisas que queria de lá. Mas se não tiver, não tem problema, dá para sentar por lá e se acabar de ler o livro que quiser!


Obs. Ri, obrigada por estar presente no dia dessa grande descoberta. Confesso que voltei já no sábado e foram horas perdidas por lá. Logo vou de novo para encontrá-las!

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Barulho estranho

E no mais absoluto silêncio ela pergunta:

- Escutou esse barulho?

- Que barulho? - responde ele sem dar muita atenção.

- Este barulhinho meio incômodo, diferente.

- Acho que você está escutando demais.

- Ou você de menos.

terça-feira, 12 de junho de 2007

Sim, ele também faz poesia

Espaço curvo e finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

José Saramago

terça-feira, 29 de maio de 2007

Tributo à Língua Portuguesa - A Descoberta do Mundo

Não sei quantas vezes na vida já li este texto, mas não canso. Acho ele sempre mais lindo e mais verdadeiro para mim.
Clarice, muitas vezes Clarice.


A Descoberta do Mundo
Clarice Lispector


Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Santo

Ele sabe.
Não precisaria de palavras para colocar para fora todo o sentimento que carrego em mim dele, para ele, por ele.
Mas se está aqui, desde o primeiro post, comigo, no meu modo de escrever e até de enxergar o mundo, merece seu espaço.
No total são seis anos de presença, seja ela como for. Ele está em mim na sutileza das palavras. Na pontuação.
Na sensibilidade e delicadeza de um haikai. Me contou sobre palavras que não existiam no meu vocabulário.
Me contou sobre vozes que eu não conhecia. Alice Ruiz. Itamar Assumpção. Ceumar. Virginia Rosa.
E tem o amor que compartilhamos por Zélia Duncan. Entre tantas outras.
Me falou de atitude. Me falou da importância da academia. É acadêmico puro e nato. É beleza física, mental, de alma.
É calor, é desassossego, é desejo.

É poesia para meus ouvidos.
De perto, de longe, de qualquer forma, faz parte do que me faz forte, faz parte do que dá segurança à minha inquieta alma.
Hoje, quase nunca conversamos por meio de palavras faladas, porém pensadas.
Ele é Santhiago, ele é santo. Sagrado, venerável, respeitável.
Tem santo forte.
Tem meu amor.



"Você já veio com contra indicação
altos riscos de contaminação
não dei bola joguei a bula fora
quem mandou?"

Quem mandou? (itamar Assumpção e Alice Ruiz)

Para Ricardo Santhiago

Novo?

As coisas têm tido cores diferentes.
Gostos diferentes.
Tatos diferentes.
Estranho, porém delicioso.
Os sons têm ecoado.
Os cheiros têm alterado comportamento.
A poesia escolhida tem significado.
Faz sentido.
Sim, ela tem sentido.
São olhares.

São palavras.
É o silêncio.

É o novo.
Talvez antigo.

Porém novo em sua intensidade.
Talvez novo.

Porém antigo em sua necessidade.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Infinito Particular

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Gosto doce

É engraçado como a gente é capaz de se sentir tomado de plena alegria com a alegria de pessoas que gostamos.
Ela me disse: “Acho que estou grávida”. Fiquei ansiosa, queria eu mesma fazer o bendito teste.
Dias depois me disse: “São gêmeos”. Fiquei sem palavras, não sabia se ela estava feliz ou assustada.
Mas acredito que no momento que essas palavras foram ditas, essas duas crianças, que somadas não passam de 4cm de vida e que crescerão literalmente ao meu lado, receberam de mim um misto de encanto e de amor do tamanho do mundo.
Deve ser porque ela é querida por mim, seu marido é querido por mim, e porque ela é, literalmente, o meu braço direito em tudo o que faço no trabalho e, muitas vezes, na vida, uma vez que escuta todas as minhas ladainhas de peixinho dourado.
Choramos, rimos, gargalhamos, trocamos e-mails, trocamos energias, trocamos coisas do mundo e somos conquista uma da outra. Conquista do dia a dia, conquista da rotina estressante, conquista de coração.
Terei que me conter por longos meses para não ficar paparicando a cada 5 minutos suas vidas. Ela odeia paparico exagerado. Mas que será lindo vê-la sorrindo contando a evolução de cada ultra-som, ah isso será.
Lê e Etto, meu grandes queridos, daqui para frente será assim... Cocô está branco, Cocô está preto, Bebe amoníaco, Comeu botão. Sem contar as Noites de insônia, Cãs prematuras, Prantos convulsos. Meu Deus, que loucura, tudo isso em dose dupla.
Porém, terão em dobro a macieza Nos seus cabelos, o cheiro morno Nas suas carnes, o gosto doce Nas suas bocas!
Sim, poderão, Chupar gilete, Beber shampoo, Atear fogo No quarteirão.
Mas, serão coisas loucas, coisas lindas, serão os filhos seus e quase sobrinhos meus!
Cuidem-se bem, meus queridos, e deles, serão dezenas de mãos prontas para ajudar.
Carinhos, cheirinhos e muito amor da tia aqui!

Um obrigado especial para Vinicius de Moraes que com seu Poema Enjoadinho me ajudou a deixar esse amor aqui registrado, de maneira simples, para vocês.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

História

Doce .
Carrega de mim

(em mim)
Absoluto encanto.
Respeito.

Falas, Palavras, Inquietações.
Ânsia Devoradora.

Lágrimas, Sorrisos, Aconchego.
Alma de Gigante.

Menina, Mulher, Gênio.
Espírito de Criança.

Versos, Prosas, Rimas.
Rimas sem fim

(em mim).

História.

Para ela - dela -, Thais.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Tudo Esclarecido

Tudo esclarecido
entre as coisas
e os seus
sig
ni
ficados
o que se viveu
tá vivido
o assunto
virou passado
e o que passou

esquecido

entre as coisas esquecidas
estão as melhores lembranças
entre as coisas perdidas
estão os grandes achados

Itamar Assumpção e Alice Ruiz

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Mudam-se os tempos

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

Luís de Camões

quinta-feira, 26 de abril de 2007

Palavras

Gosto de dizer. Direi melhor: gosto de palavrar. As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 19 de abril de 2007

A que venho?

Chega-se à fase da necessidade de mudanças. Cabelo, unhas, novo percurso de trânsito, roupas novas já não resolvem muito mais. Existe a necessidade de algo realmente novo, relevante para a inquietude interior, para o infinito particular.

CineClubeCafe é meio que um resumo de mim mesma. Louca por cinema e afins, apaixonada por "cafés" com amigos e um imenso "clube" interior (com direito à psicina olímpica rsrs) de dar nó em Freud.

Me proponho aqui a escrever para mim mesma e para quem quiser ler, afinal, se não quisesse que "me lessem" não colocaria minhas inquietações em um blog. Quase me rendendo, com esta atitute, ao mundo digital, que, para mim, jamais substituirá a boa e velha palavra no papel. Sou antiga sim, e daí?