quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Era uma vez, uma folha que sonhava...

Não sei quanto ao resto do mundo, mas essa época do ano me deixa com a sensibilidade à flora da pele.

Então, fica aqui, uma das redações que mais gostei do Concurso de redação Ler é Preciso, promovido pelo Instituto Ecofuturo.

Um mundo novo em folha

Era uma folha de papel em branco. Fazia muitos planos para seu futuro, como a maioria das folhas de papel em branco que havia no pacote. Em seus sonhos mais felizes, planejava para si uma vida de serventia educativa. Afinal, pensava a folha, o conhecimento é o bem mais importante para qualquer ser. Por isso, em sua lista imaginária de sonhos, viu a si mesma numa escola, como instrumento de aprendizado de inúmeras crianças; ou então no Ministério da Educação, e nesse sonho toda a sua superfície era recoberta de projetos educacionais para a população carente de saber. A pequena folha acreditava no futuro. Até chorava de orgulho antecipado ao se imaginar como página de um livro, podendo difundir através de palavras o conhecimento. E então queria ser reciclada e reutilizada diversas vezes. Um dia estava presa em seus devaneios, dentro do pacote com outras folhas de papel em branco. Um menino se aproximou. Abriu o pacote e puxou para si a pensativa folha. Finalmente, pensou ela, poderei ser útil à educação dessa criança! O garoto prosseguiu, realizando dobraduras na outrora lisa folha, que não compreendia o que se passava em seu corpo. Num instante, transformou-se em um avião de papel, que realizava manobras de guerra nas brincadeiras "bélicas" infantis. No fim da tarde, foi esquecida no chão, e logo surgiram mãos para amassá-la e jogá-la no lixo da cozinha, junto com os restos de alimentos desperdiçados. Em seu exílio, chorou, frustrada, e descobriu que o resto do feijão do almoço ao seu lado sonhava em acabar com a fome do mundo.

Ananda Araújo Lima Costa
16 anos - Salvador, Bahia

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Ela e eu. Eu e ela.

A danada não me disse nada. Me deu tchau, até amanhã e pronto.
Remexi em minha bolsa. Encontrei um bilhete. Lá brilhava: “O essencial é invisível aos olhos”.
Depois desta frase, doces palavras se seguiam uma a uma, enquanto as lágrimas brotavam de duas em duas.
Fiquei um tempo com aquele pedaço de papel entre os dedos, tomada de uma profunda sensação de silêncio interior.
Era exatamente tudo aquilo que eu queria dizer para ela, que sinto por ela, que penso dela. Mas me vi irada com ela.
Injusta ela foi comigo. Roubou minhas palavras e não me deu, sequer, a oportunidade de me preparar para o golpe.
Talvez eu tenha lhe dado permissão para tal em algum momento desses últimos 7 anos.
Misturamos o nosso pensar sobre o mundo, os nossos sonhos, as nossas famílias, os nossos amigos, os nossos dias.
Nos misturamos, nos complementamos, nos escolhemos.
Ela e eu. Eu e ela.