sexta-feira, 27 de julho de 2007

Medos Privados em Lugares Públicos


Com mais de 85 anos, ele parece quase que o mesmo que dirigiu, aos 37, “Hiroshima meu amor” (1959). Francês da cabeça aos pés, Alain Resnais é fascinante. “Medos privados em lugares públicos” (Coeurs), seu novo filme, me lembrou o porquê dos filmes franceses me estimularem tanto: eles são LINDOS! PURA ARTE! - lógico que não é todo filme francês que é bom, seria demais uma afirmação como essa -.

Aqui, histórias de seis personagens solitárias se conectam em um momento de desilusão de suas vidas. Um casal em crise, dois irmãos reprimidos, um barman que tem que cuidar de seu intolerante e doente pai, e uma mulher religiosa misteriosa.

Solidão, desilusão, tensão sexual, desencontros e o frio do inverno parisiense. A neve está presente em todo o filme, e ao mesmo tempo em que o deixa esteticamente encantador, consegue passar a sensação do universo da solidão, da falta de coragem de continuar lutando pelo amor, pela felicidade. As passagens de cena e a fotografia são fabulosas. Os diálogos são incríveis e nem tudo vem com intenção de ser inteligível, talvez de ser sentido.

Ponto altíssimo: A cena em que a neve cai sobre as mãos de Charlotte e Lionel dentro de casa, dialogando com o próprio diálogo, é de arrepiar.

Definitivamente, Paris é linda! Definitivamente, gosto muito dos clássicos diretores franceses!

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Algo sobre o Azul

Azul é uma cor, é um adjetivo. Azul é letra de música.

Quem pertence à nobreza tem “Sangue Azul”.
Receber o “Bilhete Azul” é ser demitido.
Pescar na “Água Azul” é pescar fora da plataforma continental, em alto mar, longe da costa.
Quando tudo vai bem, está tudo “Azul”.
A “Mosca Azul” é famosa, segundo o que se diz por aí, quem é picado por ela se deixa seduzir completamente pela ambição.

Azul Anil, Azul Celeste, Azul Petróleo, Azul Calcinha, Azul da Cor do Céu.
Azul é um menino. Azul é um menino lindo.
Azul tem cheiro de infância e gosto doce de pedacinho de céu.
Azul tem som de chuva batendo no mar.
Azul é rei em corpo de plebeu. Provoca ambição extrema pelo além do que se vê.

Intensidade leve, carinho cortante, silêncio barulhento e saudade presente.

Azul é coragem. Coragem, Azul!

“Eu não sei se vem de Deus
Do céu ficar azul
Ou virá dos olhos teus
Essa cor que azuleja o dia?
Se acaso anoitecer
Do céu perder o azul
Entre o mar e o entardecer
Alga-marinha vá na maresia
Buscar ali um cheiro de azul
Essa cor não sai de mim
Bate e finca pé
A sangue de rei
Até o sol nascer amarelinho
Queimando mansinho
Cedinho, cedinho, cedinho,
Corre e vá dizer pro meu benzinho
Um dizer assim:
O amor é azulzinho”
Djavan

Ps. Saudade, meu rei!

terça-feira, 24 de julho de 2007

Coragem

Coragem!

Coragem para levantar da cama, coragem para tomar um café, coragem para escolher a roupa do dia, coragem para pisar fora de casa, coragem para estudar/trabalhar/passear, coragem para se relacionar com alguém, coragem para manter amizades, coragem para mudar caminhos, coragem para ter sucesso, coragem para querer ser uma pessoa comum, coragem de acertar e errar. Coragem de ser persistente em ter coragem.

Coragem é ânimo, entusiasmo, força, bravura, ímpeto, ousadia, brio, valentia, destemor e coração. Persistência é apego, firmeza, insistência, obstinação, perseverança e teimosia. E, muitas vezes, somos tão entusiasmados e ousados com algo novo, somos tão teimosos, firmes e insistentes quando queremos defender algo em que acreditamos, porque, então, não somos tão corajosos e persistentes com determinados sonhos? Porque deixamos com que eles se percam no caminho? Talvez porque eles carreguem em si elementos que não se encaixam em nós, assim, seria muito justo que os deixássemos de lado; ou, talvez, porque nos julgamos despreparados para enfrentar as inquietudes que eles possam provocar em nós.

Enfim, coragem.

“Sou um monte confuso de forças cheias de infinito
Tendendo em todas as direções para todos os lados do espaço,
A Vida, essa coisa enorme, é que prende tudo e tudo une
E faz com que todas as forças que raivam dentro de mim
Não passem de mim, nem quebrem meu ser, não partam meu corpo,
Não me arremessem, como uma bomba de Espírito que estoira
Em sangue e carne e alma espiritualizados para entre as estrelas,
Para além dos sóis de outros sistemas e dos astros remotos.

Sou um formidável dinamismo obrigado ao equilíbrio
De estar dentro do meu corpo, de não transbordar da minh'alma.
Ruge, estoira, vence, quebra, estrondeia, sacode,
Freme, treme, espuma, venta, viola, explode,
Perde-te, transcende-te, circunda-te, vive-te, rompe e foge,
Sê com todo o meu corpo todo o universo e a vida,
Arde com todo o meu ser todos os lumes e luzes,
Risca com toda a minha alma todos os relâmpagos e fogos,
Sobrevive-me em minha vida em todas as direções!”

Afinal, Álvaro de Campos (Fernando Pessoa)

Tira o som dessa TV

Põe mais um na mesa de jantar
por que hoje eu vou pra aí te ver
e tira o som dessa TV
pra gente conversar


Além o Que se Vê – Marcelo Camelo

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Paris, Jet´Aime


Nunca estive lá, mas sempre tive interesse em estar. É a famosa Cidade Luz, tem fama de cidade do amor, dos amantes e por aí vai, mas, na prática, nós, brasileiros, devemos ser imensamente mais calorosos que eles, portanto, o “amor” talvez não seja o real motivo para despertar paixão em mim (nós) por Paris.

Paris, Jet´Aime é encantador! É capaz de mostrar uma Paris que chama menos atenção para sua “fama” e mais para histórias comuns sobre diferentes tipos de amores vividos dentro desta cidade.

São 18 curtas de grandes diretores de todo o mundo, que em alguns momentos dialogam, em outros não se encaixam tão bem, são absurdamente fantásticos e outros bem menos, mas não perdem a sua graça, afinal, estamos falando do envolvimento de nomes como Gus Van Sant (Gênio Indomável), Walter Salles (Diários de Motocicleta e Abril Despedaçado), Alfonso Cuarón (E sua mãe também e Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban) e os irmãos Coen (Matadores de Velhinhas), fora as sempre fantásticas presenças de Gérard Depardieu, que aqui atua e co-dirige um dos curtas, e Juliette Binoche (Chocolate e Caché).

Cada curta acontece em um arrondissement, ou seja, uma divisão distrital de Paris. São histórias diversas: sujeitos comuns em situações comuns ou inusitadas, choques culturais, ruídos de comunicação, toques de surrealismo, realismo fantástico – aqui Juliette Binoche dá um show -, toques infantis, separação e até mesmo de terror com vampiros. Confesso, me apaixonei à primeira vista, muito mais do que por qualquer outro, pelo literalmente curto “Loin du 16e”, co-dirigido Walter Salles (e olha que não foi por patriotismo) e Daniela Thomas. Silenciosa, Sensível, Comovente e Ambígüa trajetória de uma doméstica latina a seu local de trabalho. É de chorar em curtos minutos de projeção.

Outro que me chamou a atenção foi o Tour Eiffel, de Sylvain Chomet (que já tinha ganhado meu respeito pelo mais que sensível As Bicicletas de Belleville), que explora a inocência do amor, com uma deliciosa atuação de mímicos e um garotinho apaixonante, que é capaz de fazer qualquer um sorrir.

Mas, para não deixar “menor” nenhum deles, vale dizer que todos carregam em si algo que desperta interesse, que desperta um certo encanto. O último curta, dirigido por Alexandre Payne (Sideways), é absolutamente melancólico, porém com uma personagem, uma turista rechonchuda e caipira dos Estados Unidos, que dá uma simplicidade e leveza tão grande ao texto que foi capaz de me fazer sentir o frescor do vento do parque da cena final. Fantástico!

Não precisaria dizer, mas... Eu mais que recomendo! Vale cada minuto de projeção!

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Repeteco, teco, caco, arte (cont.)

E a sexta-feira continua dengosa...

Será que eu continuo no improviso
ou arrisco a velha prosa
essa glosa vai de aviso
pra essa mulher formosa
que eu só quero o seu sorriso
repetindo o repeteco

no boteco da cultura
quero ao vivo, não telex
essa infinita saudade
tanto bate, tanto dura
(R.S., o incorrigível)


e ganha reforço...


Quanto pesa uns dias de saudade
Será que o improviso consegue segurá-la
Peço sua prosa, sua poesia
Sua voz, sua alegria
Na semana que se repete
Bem na próxima semana

Findo

Foram dias de encontros
Foram outros de ardor
Mundo de descobertas febris
Calafrios, Candidez, Caprichos
Foram tempos de palavras escorregadias
Foram ávidas cartas de amor
Entre os intervalos e os abodegos
A separação foi a cruz
Foram prantos convulsos
Foram meses de deserto
Vieram os novos ensejos
O mundo se coloriu de outras nuanças

Ficou-se a saudade
Ficou-se a recordação
Deixou um certo gosto na vida
O cheiro do sentimento sentido

E veio o reencontro
E a inquietante constatação:
É só. Passado. Findo.
O mundo tem outro tom.

Repeteco, teco, caco, arte

Ela diz:

Aguardo repeteco de você.



Ele, do jeito que é só dele, responde:

aguardo repeteco de você
quero nacos mais os ecos
junto tecos dos teus cacos
desencapo o durepoxi
colo um a um os pedaços
e te apresento feito arte
obra-prima bem acabada
daquelas de ficar babando
aguardando repeteco de você
(r.s., o incorrigível)


Ela, derretida, completa:

vem me repetir no repeteco
vem comigo que eu te mostro
cola um teco do seu caco
junto aos meus cacos
para a arte ser mais arte

quinta-feira, 5 de julho de 2007

As manifestações


Queridos, adorei as manifestações sobre o blog!

Mas tenho que confessar que uma das respostas foi eleita a mais fofa, veio até ilustrada.

Olha aí que gostosura o Rico, pimpolho de 3 meses da querida Japa Muraichi e do Rodrigo.
"E não reclamo de nada, nem das noites interrompidas, do choro sem razão (que na verdade há... a gente é que não conhece o motivo... hehehehehe), pois apesar de tudo isso há o sorriso maroto e apaixonado, os "angus" encantadores!!!", by Muraichi.
Lindo demais!



quarta-feira, 4 de julho de 2007

O delicioso som das VOZES

Há muito tempo tenho um certo encanto por vozes.
Algumas pessoas me despertam interesse imediato só com o timbre da voz.
Existe algo de mágico nas vozes. Algo que faz viajar um pouco, sair um pouco do senso comum. Posso passar tempo ouvindo algo, sem nem prestar atenção no conteúdo da fala, apenas no tom de voz, no sotaque, nos vícios de linguagem e viajar nisso.
Pode parecer loucura, mas há algo de maior que vem do timbre da voz de cada um. Não só do timbre, mas também na maneira do falar.
Lógico que a grande maioria não tem uma voz fantástica, capaz de me causar tanta alucinação, são poucas que são fascinantes de verdade.
Acho que meu interesse pelo tema começou um pouco antes de entrar na faculdade de jornalismo. Queria trabalhar em TV, então, o trabalho de voz seria imprescindível. Com o tempo e algumas decepções aqui, novos interesses ali, a questão da TV saiu dos meus planos, mas ganhei uma nova e verdadeira paixão, o rádio. Daí a coisa piorou... Minha atração por vozes ficou ainda maior.
Fui fazer um curso de locução com uma pessoa encantadora – de voz incrível, de arrepiar -, que me fez descobrir milhares de coisas em mim e em minha voz. Coisas que até mesmo ainda não aprendi a lidar direito. Fiz fono. Fiz aqueles exercícios chatíssimos com uma rolha na boca, mas foi ótimo. Acabei abandonando o tratamento no meio por conta de outras prioridades. Mas, enfim, o encantamento persistiu.
Foi amando vozes que me apaixonei por Selton Mello, com sua voz rouca e deliciosa.
Pela voz gravíssima e sua imensa propriedade sobre ela de Zélia Duncan (sim, eu quero entrar para o fã clube dela!!!! rs).
Pela melodiosa voz de Marisa Monte.
Pela maciez da de Toquinho. Pela inquietude da de Elis Regina.
São tantas...
Existem também, aliás essas são as melhores, as vozes do dia a dia que me encantam. Vozes que estão mais presentes e mais próximas, e que eu exploro e analiso sem qualquer pudor. Vozes que carregam em si doces lembranças, assim como cheiros e gostos – mas são temas para outros papos. O tom de voz é capaz de mudar o significado das coisas. É capaz de conquistar ou de afastar pessoas.
Cada voz carrega em si elementos muito particulares de cada um. Aliás, é uma das nossas melhores particularidades que necessariamente são anunciadas/expostas, quase que sem opção de não serem, para o resto do mundo.

“Até quem sabe a voz do dono
Gostava do dono da voz”
Chico Buarque

“No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.”
Carlos Drummond de Andrade

“QUE VOZ VEM no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutarmos, cala,
Por ter havido escutar.”
Fernando Pessoa

“Que venha o censo de 70
e com ele venha
a recenseadora mais bacana,
aquela que ao dizer, com voz de acúcar(a doce voz é a melhor senha):
"Preencha direitinho
este questionário, por favor",
tenha sempre dos homens a resposta:
"Por você, minha flor,
preencho tudo, sou capaz atéde reclamar duzentos questionários,
passando a vida inteira a preenchê-los,
mesmo os mais complicados e mais vários,
tendo-a ao meu lado, é claro, a me ajudar."”
Carlos Drummond de Andrade