terça-feira, 29 de maio de 2007

Tributo à Língua Portuguesa - A Descoberta do Mundo

Não sei quantas vezes na vida já li este texto, mas não canso. Acho ele sempre mais lindo e mais verdadeiro para mim.
Clarice, muitas vezes Clarice.


A Descoberta do Mundo
Clarice Lispector


Esta é uma confissão de amor: amo a língua portuguesa. Ela não é fácil. Não é maleável. E, como não foi profundamente trabalhada pelo pensamento, a sua tendência é a de não ter sutilezas e de reagir às vezes com um verdadeiro pontapé contra os que temerariamente ousam transformá-la numa linguagem de sentimento e de alerteza. E de amor. A língua portuguesa é um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve tirando das coisas e das pessoas a primeira capa de superficialismo.
Às vezes ela reage diante de um pensamento mais complicado. Às vezes se assusta com o imprevisível de uma frase. Eu gosto de manejá-la – como gostava de estar montada num cavalo e guiá-lo pelas rédeas, às vezes lentamente, às vezes a galope.
Eu queria que a língua portuguesa chegasse ao máximo nas minhas mãos. E este desejo todos os que escrevem têm. Um Camões e outros iguais não bastaram para nos dar para sempre uma herança da língua já feita. Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
Essas dificuldades, nós as temos. Mas não falei do encantamento de lidar com uma língua que não foi aprofundada. O que recebi de herança não me chega.
Se eu fosse muda, e também não pudesse escrever, e me perguntassem a que língua eu queria pertencer, eu diria: inglês, que é preciso e belo. Mas como não nasci muda e pude escrever, tornou-se absolutamente claro para mim que eu queria mesmo era escrever em português. Eu até queria não ter aprendido outras línguas: só para que a minha abordagem do português fosse virgem e límpida.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Santo

Ele sabe.
Não precisaria de palavras para colocar para fora todo o sentimento que carrego em mim dele, para ele, por ele.
Mas se está aqui, desde o primeiro post, comigo, no meu modo de escrever e até de enxergar o mundo, merece seu espaço.
No total são seis anos de presença, seja ela como for. Ele está em mim na sutileza das palavras. Na pontuação.
Na sensibilidade e delicadeza de um haikai. Me contou sobre palavras que não existiam no meu vocabulário.
Me contou sobre vozes que eu não conhecia. Alice Ruiz. Itamar Assumpção. Ceumar. Virginia Rosa.
E tem o amor que compartilhamos por Zélia Duncan. Entre tantas outras.
Me falou de atitude. Me falou da importância da academia. É acadêmico puro e nato. É beleza física, mental, de alma.
É calor, é desassossego, é desejo.

É poesia para meus ouvidos.
De perto, de longe, de qualquer forma, faz parte do que me faz forte, faz parte do que dá segurança à minha inquieta alma.
Hoje, quase nunca conversamos por meio de palavras faladas, porém pensadas.
Ele é Santhiago, ele é santo. Sagrado, venerável, respeitável.
Tem santo forte.
Tem meu amor.



"Você já veio com contra indicação
altos riscos de contaminação
não dei bola joguei a bula fora
quem mandou?"

Quem mandou? (itamar Assumpção e Alice Ruiz)

Para Ricardo Santhiago

Novo?

As coisas têm tido cores diferentes.
Gostos diferentes.
Tatos diferentes.
Estranho, porém delicioso.
Os sons têm ecoado.
Os cheiros têm alterado comportamento.
A poesia escolhida tem significado.
Faz sentido.
Sim, ela tem sentido.
São olhares.

São palavras.
É o silêncio.

É o novo.
Talvez antigo.

Porém novo em sua intensidade.
Talvez novo.

Porém antigo em sua necessidade.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Infinito Particular

Eis o melhor e o pior de mim
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular

Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Gosto doce

É engraçado como a gente é capaz de se sentir tomado de plena alegria com a alegria de pessoas que gostamos.
Ela me disse: “Acho que estou grávida”. Fiquei ansiosa, queria eu mesma fazer o bendito teste.
Dias depois me disse: “São gêmeos”. Fiquei sem palavras, não sabia se ela estava feliz ou assustada.
Mas acredito que no momento que essas palavras foram ditas, essas duas crianças, que somadas não passam de 4cm de vida e que crescerão literalmente ao meu lado, receberam de mim um misto de encanto e de amor do tamanho do mundo.
Deve ser porque ela é querida por mim, seu marido é querido por mim, e porque ela é, literalmente, o meu braço direito em tudo o que faço no trabalho e, muitas vezes, na vida, uma vez que escuta todas as minhas ladainhas de peixinho dourado.
Choramos, rimos, gargalhamos, trocamos e-mails, trocamos energias, trocamos coisas do mundo e somos conquista uma da outra. Conquista do dia a dia, conquista da rotina estressante, conquista de coração.
Terei que me conter por longos meses para não ficar paparicando a cada 5 minutos suas vidas. Ela odeia paparico exagerado. Mas que será lindo vê-la sorrindo contando a evolução de cada ultra-som, ah isso será.
Lê e Etto, meu grandes queridos, daqui para frente será assim... Cocô está branco, Cocô está preto, Bebe amoníaco, Comeu botão. Sem contar as Noites de insônia, Cãs prematuras, Prantos convulsos. Meu Deus, que loucura, tudo isso em dose dupla.
Porém, terão em dobro a macieza Nos seus cabelos, o cheiro morno Nas suas carnes, o gosto doce Nas suas bocas!
Sim, poderão, Chupar gilete, Beber shampoo, Atear fogo No quarteirão.
Mas, serão coisas loucas, coisas lindas, serão os filhos seus e quase sobrinhos meus!
Cuidem-se bem, meus queridos, e deles, serão dezenas de mãos prontas para ajudar.
Carinhos, cheirinhos e muito amor da tia aqui!

Um obrigado especial para Vinicius de Moraes que com seu Poema Enjoadinho me ajudou a deixar esse amor aqui registrado, de maneira simples, para vocês.

quarta-feira, 9 de maio de 2007

História

Doce .
Carrega de mim

(em mim)
Absoluto encanto.
Respeito.

Falas, Palavras, Inquietações.
Ânsia Devoradora.

Lágrimas, Sorrisos, Aconchego.
Alma de Gigante.

Menina, Mulher, Gênio.
Espírito de Criança.

Versos, Prosas, Rimas.
Rimas sem fim

(em mim).

História.

Para ela - dela -, Thais.

terça-feira, 8 de maio de 2007

Tudo Esclarecido

Tudo esclarecido
entre as coisas
e os seus
sig
ni
ficados
o que se viveu
tá vivido
o assunto
virou passado
e o que passou

esquecido

entre as coisas esquecidas
estão as melhores lembranças
entre as coisas perdidas
estão os grandes achados

Itamar Assumpção e Alice Ruiz

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Mudam-se os tempos

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e, em mim, converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

Luís de Camões